Interação Genótipo-Ambiente em Bovinos
Interação Genótipo-Ambiente em Bovinos: Revisão de Estudos no Brasil – EMBRAPA
O estudo, a detecção e a inclusão dos efeitos da Interação Genótipo-Ambiente em bovinos nos programas de melhoramento genético animal são importantes, dada a possibilidade de escolha de animais pouco adequados a diferentes ambientes de criação. Esse efeito, ademais, apresenta-se mais desfavorável quando os animais são selecionados em rebanhos-núcleo que empregam níveis elevados de tecnologia e manejo e, posteriormente, utilizados como reprodutores em rebanhos comerciais, de manejo extensivo e pouco emprego de tecnologias.
O fenótipo, isto é, a expressão de características dos indivíduos, pode variar de acordo com o ambiente com o qual o genótipo está interagin- do. Lush (1962) comentou que a questão de uma característica ser hereditária ou devida ao meio não tem significação no sentido estrito desses termos. Toda característica é ao mesmo tempo hereditária e devida ao meio, pois ela é o resultado de uma longa cadeia de interações dos ge- nes entre si, com o meio e com os produtos intermediários de cada está- dio de desenvolvimento. Os genes não podem produzir a característica a menos que tenham um meio apropriado e, por maior que seja a atenção dada ao meio, não se desenvolverá a característica se não estiverem pre- sentes os genes necessários. Se forem alterados os genes ou o meio, alterar-se-á também a característica que resulta de suas interações.
Ambos, genótipo e ambiente, são importantes na expressão das características economicamente relevantes na bovinocultura, pois, de acordo com Pereira (2008), o fenótipo dos indivíduos pode ser entendido como o resultado da interação do genótipo desse indivíduo com o ambiente no qual ele vive, de modo que essas interações podem ser aditivas ou não aditivas. Isso justifica a mudança no desempenho de animais testa- dos em ambientes diferentes daqueles a que seu genótipo estaria ade- quado, podendo essa mudança de desempenho gerar ganho ou per- da econômica. Por isso, a avaliação da Interação Genótipo-Ambiente (IGA) é muito importante para programas de melhoramento genético, pois pode provocar alterações nas variações genéticas, fenotípicas e ambientais e, por conseguinte, resultar em mudanças nas estimativas dos parâmetros genéticos e fenotípicos, implicando na possibilidade de mudanças nos critérios de seleção (ALENCAR et al., 2005; FALCONER, 1952). Diferenças entre o ganho genético esperado e o ganho genético realizado em um programa de seleção, podem ser explicadas, segundo Briquet Júnior (1967), pela correlação genótipo-meio negativa.
Em alguns estudos de características de desempenho, tem crescido a preocupação sobre respostas dos indivíduos em ambientes distintos. Uma questão básica no melhoramento genético animal é se a seleção de indivíduos em determinado ambiente é válida para se atingir pro- gresso genético em outro tipo de ambiente. O Brasil é um país de di- mensões continentais com predominância de pastejo extensivo, entre- tanto, sendo o ambiente de criação nos países fornecedores de material genético de bovinos bastante diferenciado, necessita da investigação da presença de IGA entre diferentes países e inclusive entre regiões do mesmo país (CORREA et al., 2007).
Em uma situação onde as diferenças nos níveis genéticos e ambientais são grandes, a IGA será bastante esperada, como no caso onde se com- para a produtividade entre raças europeias e zebuínas em ambiente tropical e temperado. Através da interação, pode-se conhecer qual a combinação ótima entre genótipos e ambientes, visando maximizar a produção. Na situação em que a diferença genética é baixa e a diferen- ça ambiental é alta, a presença da IGA poderá ser importante para definir as condições de ambiente em que os animais deverão ser selecio- nados, como no caso de reprodutores criados em plantéis de seleção localizados nas melhores regiões, utilizando-se práticas de manejo bem acima da média, e os mesmos sendo utilizados como reprodutores em outros ambientes e outras condições de manejo. Quando o contrário a esta situação ocorre, como no caso em que diversas raças são criadas numa determinada área, a comparação da performance dos animais seria importante e as interações possivelmente estariam presentes, mas não teriam importância, desde que os resultados fossem s àquela situação de ambiente. Uma última situação, na qual a IGA será praticamente inexistente, é quando um grupo de indivíduos é transfe- rido de condições favoráveis para um ambiente ruim, alterando o com- portamento relativo para uma dada característica, isto é, quando há pequena diferença genética e ambiental (VENCOVSKY; PACKER, 1976).
A IGA é uma hipótese essencial tanto na evolução genética quanto no melhoramento genético dos animais domésticos (FERREIRA et al., 2001), torna-se evidente e ocorre quando o desempenho de dois ou mais genótipos varia em função do ambiente ao qual estão expostos (BERRY et al., 2003; TEIXEIRA et al., 2004).
As progênies de um mesmo reprodutor podem não repetir o desempe- nho dos pais, caso sejam criadas em microrregiões ou fazendas dife- rentes, evidenciando a necessidade de cuidados na compra de reprodu- tores e/ou sêmen (ERIKSSON, 2003; GRASER et al., 1985; KOLMODIN, 2003; NOBRE et al., 1987; SIMM, 1998). As correlações entre os valores genéticos e a classificação dos animais assumem grande importância quando se considera que, em um programa de seleção, apenas os in- divíduos com melhores valores genéticos são escolhidos para repro- dução e, sendo os valores de correlação baixos, um touro escolhido com base em informações dos filhos criados em determinada região poderia não ser escolhido se avaliado pelas informações de seus filhos criados em outras regiões.
Falconer (1952) e Hammond (1947) conduziram as pesquisas pionei- ras sobre a importância da IGA na produção animal. O primeiro autor preconizou que os animais deveriam ser selecionados nos melhores ambientes, em razão da maior expressão dos genes de interesse. O segundo autor sugeriu que os genes poderiam não ser os mesmos nos vários ambientes, ou seja, que o conjunto de genes responsáveis pela expressão de determinada característica poderia variar, dependendo do ambiente no qual o animal é inserido. Assim, considerava uma caracte- rística selecionada em ambientes diferentes como duas características diferentes e estabelecia as diferenças entre os genes atuantes nesses ambientes por meio de correlações entre essas duas características.
Robertson (1959) afirma que seria necessário realizar avaliações de tou- ros separadamente para regiões onde a IGA tenha provável significância, pois encontrou alterações na classificação de touros com valores de cor- relação genética abaixo de 0,80, alertando para a necessidade de cuida- dos no uso indiscriminado de touros e sêmen em áreas extensivas.
No processo de melhoramento genético, deve-se atentar ao ambiente no qual está se fazendo a seleção, pois este pode condicionar os resul- tados. Reis e Lôbo (1991) concluíram que, em relação à média fenotí- pica, um animal em um ambiente de menor qualidade, tenderia a res- ponder negativamente, enquanto animais em um ambiente de maior qualidade, tenderiam a respostas positivas. Nas avaliações genéticas, a pressuposição comumente assumida é a ausência de IGA.
As análises de adaptabilidade são táticas que permitem identificar as combinações genotípicas que respondem positivamente às variações ambientais favoráveis, portanto, avaliam a capacidade dos genótipos aproveitarem de forma vantajosa o estímulo do ambiente (BARROS et al., 2004).
A IGA pode também causar heterogeneidade de variâncias e resultar em seleção equivocada de animais (MARTINS, 2002), ou seja, o melhor ge- nótipo em um ambiente pode não ser o melhor em outro, isto dependerá da interação entre esses dois fatores (CRUZ; CARNEIRO, 2003). Van Der Werf et al. (1994) constataram que a variância heterogênea é ível de ocorrência com o ar dos anos, verificada pelo aumento no desvio padrão fenotípico nas características de produção. Mesmo quando são realizadas análises com correção para presença de variâncias heterogê- neas, outras fontes de viés podem ainda permanecer, mais especifica- mente o efeito do tratamento preferencial aplicado às mães de touros.
Visscher (1991) e Visscher e Hill (1992) encontraram mudanças nas vari- âncias genéticas aditiva e residual, simultaneamente, entre ambientes. Porém, deve-se considerar que, segundo Van Vleck (1987), é mais im- portante o comportamento dos valores de herdabilidade do que o das variâncias fenotípicas nos diferentes ambientes.
Autores: Cintia Righetti Marcondes e Amanda de Sousa Matos
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